10:33:00PET Educação UFMT


AUTISMO E INCLUSÃO - PROGRAMA DE TREINAMENTO EM ABA (ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA)
REFLEXÕES E POSSIBILIDADES
                                                                                     

SILVA, Anne Karoline Oliveira Ferreira da – UFMT

Agência Financiadora: não contou com financiamento


Resumo
O presente artigo tem como objetivo discorrer sobre o autismo, elucidando brevemente suas características, conceitos e possíveis etiologias. Considerando a relevância da temática no âmbito educacional, psicológico e familiar, bem como a complexidade percebida pelo educador ao se deparar com a criança autista em sala de aula, em detrimento da ausência ou insuficiência de preparo adequado para trabalhar com a mesma, pretende-se falar sobre metodologias pedagógicas baseadas no Programa de treinamento em ABA (em português, análise do comportamento aplicada) que objetiva em sua abordagem o desenvolvimento das habilidades psicossociais, motoras e cognitivas da criança autista, ressaltando suas possibilidades de avanços. Portanto, discutiremos a respeito da inclusão, pois avaliamos a importância desta para inserção da criança “portadora” de autismo nas escolas regulares, com todas as garantias e direitos que a LDB assegura, uma vez que segundo a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº. 9394/1996 Art.59) a escola deve garantir aos alunos com necessidades educacionais especiais currículos, métodos, recursos pedagógicos e organização direcionada para suprir às suas necessidades. O documento apresenta uma finalidade peculiar direcionada aqueles que não conseguirem alcançar o nível mínimo estabelecido para a conclusão do Ensino Fundamental, em virtude da sua condição dedesvantagem”. Buscaremos, através das explanações descritas, informar e fazer com que o leitor reflita sobre as mesmas. A metodologia aplicada para a fundamentação teórica do trabalho foi pautada na pesquisa do tipo exploratória, através de levantamento bibliográfico e abordagem qualitativa, utilizando de alguns autores renomados que estudam sobre o autismo, como o médico austríaco e precursor na descrição da “doença” Kanner e o cientista sueco Christopher Gillberg, entre outros. Além desse aparato teórico, o programa de treinamento já mencionado também foi utilizado como fundamentação teórica dessa pesquisa.

Palavras-chave: Autismo. Inclusão. Necessidades Educacionais Especiais. Programa de Treinamento em ABA.





Introdução
O primeiro estudioso a descrever a “síndrome” foi Léo Kanner, no ano de 1943, e se referiu as crianças acometidas com essa “doença” como sendo extremamente solitárias e incapazes de assumir uma postura antecipatória, com desenvolvimento atrasado da linguagem, ecolalia (é uma característica do período de balbucio no desenvolvimento de uma criança, ela repete e ecoa o mesmo som) e inversão pronominal (utilização do pronome “ele” quando a significação éeu”), criando um repertório próprio de “palavras” (idiossincrasia).
O espectro autista é combinado por uma diversidade de síndromes que têm duas particularidades em comum: a problemática na interação social e movimentos repetitivos, além dessas características, apresentam dificuldades motoras e ataques epilépticos, entre outros sintomas.
Não existe uma única definição do autismo, existem várias outras definições para a “síndrome”, uma delas o considera como uma alteração cerebral, uma desordem que compromete o desenvolvimento psiconeurológico e afeta a capacidade da pessoa se comunicar, compreender e falar, bem como seu convívio social.
Pesquisadores reconhecem déficits comunicativos muito precoces no autista, esses déficits podem ocasionar o isolamento social da criança, como se ela vivesse em um mundo a parte. Gillberg (1990) conceitua o autismo como uma síndrome comportamental com causas diversas, assim como um distúrbio de desenvolvimento. Caracteriza-se por dificuldades nas relações sociais, em detrimento da inabilidade da linguagem e alterações comportamentais.
 Wing (1980) e Rutter (1976) concebem o dano lingüístico como sendo mais básico, explicam que o afastamento social é uma inferência a partir de problemas cognitivos e comunicativos; o prejuízo social advém de dificuldades no uso da comunicação verbal e não verbal; a falha na linguagem não se deve a reclusão social.
As causas do autismo ainda são desconhecidas, existem várias hipóteses, podendo ocorrer de maneira isolada ou combinada, desde infecções virais, distúrbios metabólicos e epilepsia a predisposições genéticas. Atualmente os estudos genéticos são mais crescentes em relação a outras teorias pesquisadas sobre as prováveis etiologias do autismo, no entanto nenhuma delas é taxativa e esclarecedora. Conforme expresso a seguir: “Autismo é síndrome comportamental com etiologias diferentes, na qual o processo de desenvolvimento infantil encontra-se profundamente distorcido” (BOSA, 1998, p.01).
Sabemos que a inserção de crianças autistas nas escolas regulares cria novos questionamentos acerca do autismo, e posteriormente, pode gerar novas possibilidades para a criança autista. Segundo a Declaração de Salamanca (1994) a inclusão de crianças com necessidades educativas especiais nas escolas regulares se faz necessária como democratização das oportunidades educacionais. Entretanto, devemos ter prudência em não confundir inclusão com “colocação”, a partir da primícia de que "democratizar as oportunidades educacionais" seja apenas colocar alunos portadores de deficiências nas escolas regulares. De acordo com a seguinte fala:


A simples matrícula destes alunos não é suficiente para garantir efeitos potencializadores de desenvolvimento e aprendizagens. Pelo contrário, a inserção em certos espaços pode promover, inclusive, o rechaço da própria escolarização como um todo (VASQUES, 2003, p. 61).


Nessa perspectiva, salientamos a importância dos programas de treinamento ao educador e apoio a família, sendo estes, considerados ferramentas significativas para práticas pedagógicas inclusivas e determinantes na otimização de possibilidades da criança autista. Por conseguinte, abordaremos sobre o programa de treinamento em ABA (abreviação de Applied Behavioral Analysis – em português - Análise do comportamento aplicada) o termo ABA é originado da teoria científica do Behaviorismo, que observa, analisa e explica a relação presente na tríade ambiente, comportamento humano e a aprendizagem.
O Modelo ABA surgiu no início da década de 70 nos Estados Unidos (Universidade de Berkeley, Califórnia) cuja finalidade é propiciar às famílias e crianças com autismo uma maneira de garantir a essas pessoas o respaldo de um consultor em ABA, sobretudo, para aquelas que não possuem acesso a especialistas na “síndrome”, seja pela insuficiência de condições financeiras para pagar esse profissional, ou porque não possuem o conhecimento sobre o assunto. A tradução do manual para o português é fruto do sonho e do esforço de muitas pessoas ligadas à Comunidade Virtual Autismo no Brasil, grupo que se reúne através do site "yahoogrupos" desde 1998, foi escrito por uma mãe para pais; professores, terapeutas, assistentes educacionais, provedores de serviços, tias, tios, acompanhantes, monitores de acampamento, babás, avós e qualquer pessoa que tenha a oportunidade de fazer diferença na vida de uma criança com autismo. Logo, o programa ABA oferece orientações e treino para a família lidar com esse sujeito e prepará-lo para as adversidades da vida, bem como contribuir para sua autonomia. Conforme o Manual do Programa ABA (2006), o ambiente familiar e de treino habitual da criança devem tornar-se estimuladores por si só. A família e terapeuta deverão estar ao lado da criança em atividades que sejam satisfatórias para ela, a presença desses deve ser uma ponte de reforço positivo favorável ao treinamento. As tarefas de aprendizagem devem ser interpostas primeiramente com atividade de maior facilidade até alcançar um nível de dificuldade (...). A segurança estabelecida entre a família, o educador e a criança autista é imprescindível para o avanço das potencialidades da mesma.
            Caballo (2008) salienta a prioridade da perpetuidade do ensino para uma criança autista, ainda que esse processo seja caracterizado por determinadas frustrações no começo do aprendizado. O empenho dos familiares em corresponder espontaneamente sempre que a criança necessitar de atenção ou tentar interagir acarretará em atividades que se tornem estimuladores sociais relevantes, o que, certamente fará com que a criança se sinta segura e acolhida no processo de ensino - aprendizagem. O programa ABA preconiza que a intensa participação da família é uma contribuição significativa para o seu êxito, acrescenta ainda, que se os professores forem bem treinados, as crianças serão bem ensinadas.

Metodologia
A modalidade da pesquisa aplicada para a realização do trabalho foi do tipo exploratória, apresentando o objetivo, definições e a caracterização inicial do problema, assim sendo, maior familiaridade com o mesmo, bem como levantamento bibliográfico, utilizando autores de prestígio que explanam sobre o autismo. Entre eles, citaremos Kanner, considerado o “pai do autismo” por ter sido o precursor na descrição da “doença”, antes vista apenas como um sintoma extremo de alienação, e o cientista sueco Christopher Gillberg (2005), entre as diversas teorias de suas pesquisas, apregoa que o autismo manifesta-se de forma independente da raça, cultura, educação ou classe social dos indivíduos. Além desses e outros autores renomados, o programa de Treinamento em ABA foi utilizado na fundamentação teórica do trabalho e abordado como temática central do mesmo.
A abordagem da pesquisa também foi qualitativa, pois apresenta característica descritiva, os dados e informações contidos no trabalho não podem ser quantificáveis, estes são analisados indutivamente, sendo a interpretação de fenômenos e a atribuição de significados características fundamentais no processo do estudo qualitativo.

Considerações Finais
Discorrer sobre o autismo (também nomeado espectro autista) é falar de uma gama de conhecimentos, novas possibilidades e teorias que nem sempre são esclarecedoras, mas ainda sim, instigadoras. Ao longo dos anos, pesquisadores e apaixonados pelo tema, tentam preencher essa lacuna, por meio de novos estudos e novas descobertas.
Notamos a importância em abordar sobre o tema inclusão, considerando-o diretamente relacionado ao autismo. No entanto, podemos constatar que a simples matrícula da criança autista nas escolas regulares não deve se configurar como uma mera “colocação” deste aluno, uma vez que a Instituição de Ensino deve dispor de elementos indispensáveis para suprir as necessidades educacionais especiais das crianças autistas. Para tanto, cabe às autoridades governamentais investir na reestruturação escolar, sobretudo em escolas públicas e com famílias de baixo poder aquisitivo, que não têm condições financeiras para procurar um “atendimento” especializado ao seu filho (a) autista.
Em consonância com a temática inclusão, estão os programas de Treinamento para a formação de novos educadores em ABA, oportunizando novos olhares e novas formas de escuta para as crianças e as famílias, que ao se depararem com dificuldades e preconceitos envoltos na criança autista, são tomadas inicialmente por um sentimento de angústia por não saber lidar com essa situação, assim como a aceitação do seu filho com características e peculiaridades que lhe são inerentes.
Desta forma, destacamos nessa pesquisa o Programa de treinamento em ABA, o mesmo contempla práticas pedagógicas e psicológicas direcionadas à baixo custo, uma vez que atende a famílias desprovidas financeiramente de buscar um consultor em ABA capacitado para proporcionar os avanços necessários ao autista, este profissional devidamente “treinado” desenvolve um trabalho pedagógico integrado ao psicológico, com eficácia e afetividade, centralizando suas práticas pedagógica na integração entre o educador, a família e acriança, sujeito no processo de ensino-aprendizagem.
Logo, pensamos que compreender e trabalhar com uma criança autista requer muito além de anos de estudos e pesquisas, devemos enxergar esse sujeito de maneira humanística, científica e holística, evitando ideias pré – concebidas e mitos enraizados no senso comum, de certa forma, postulamos que seja necessário adentrar no “universo” autista, lidando com todas as bonificações e entraves existentes nesse percurso.

REFERÊNCIAS
BOSA, Cleonice Alves. Autismo: intervenções psicoeducacionais. Reflexões e propostas de intervenção. Porto Alegre: Editora Artmed, 2002.

KAPLAN, Harold I; et al. Compêndio de psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7. ed. Artes Médicas: Porto Alegre, 1997. 

GILLBERG, C; Nordin, V; & Ehlas S. (1996). O diagnóstico precoce do autismo: Instrumentos diagnósticos para clínicos. European Child e Adolescent Psychiatry, 5, 67-64.

KANNER, L. (1943). Autistic disturbances of affective contact. Nervous Child, 2, 217-250.

VASQUES, Carla k. Um Coelho branco sobre a neve. Estudos sobre a escolarização de sujeitos com psicose infantil. Porto Alegre: UFGRS, Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegra, 2003.

LEAR, Kathy. Ajude-nos aprender: Programa de Treinamento em Análise do Comportamento Aplicada-ABA-. Tradução de Ana Vilela et al.2 ed. Brasil, 2006.152 p.

WING, L. (1981). Language, social, and cognitive impairments in autism and severe mental retardation. Journal of Autism and Developmental Disorders, 11, 1, 31-44.

CABALLO, Vicente E. O treinamento em habilidades sociais. In: Manual de técnicas de terapia e modificação de comportamento. São Paulo: Santos 2008, cap. 18, p. 386-398.

Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96). Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/l9394.htm>: Acesso em 05/08/2012, às 03:15.

UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de ação sobre necessidades educativas especiais.[Adotada pela Conferencia Mundial sobre Educação para Necessidades Especiais]. Acesso e Qualidade, realizada em Salamanca, Espanha, entre 7 e 10 de junho de 1994. Genebra, UNESCO 1994.

Organização Mundial Da Saúde. Classificação estatística internacional de doenças e problemas relacionados à saúde: CID10. 10 @ Revisão, São Paulo, Edusp, Vol. 11, 1998.

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